Coração de Zinco

A poesia de Lee Flôres é das profundamente compro­metidas com a vida humana, em seu sentido mais radical. Não da que trilha elucubra­ções metafísicas, mas que en­contra a filosofia num vagão de metrô, no beiral da janela de um prédio olhando outros. Que se pinta de cal e piche. A que se insinua num momento rotineiro, na folga do almoço – por que não há força que re­prese a vida – e nos emociona com a descoberta de um deta­lhe do dia. É das poesias que seguem o norte da simplicida­de para arrebatar os olhos em lágrimas. Seu livro há muito exigia vir à tona e chegou num mo­mento particularmente belo de sua produção literária. O nome “Coração de Zinco” além de valor afetivo – a poesia de José Geraldo Marques que des­lumbrava nossa juventude em Maceió – sintetiza, como difi­cilmente outro o faria, seu uni­verso poético. Pode-se dizer, usando a metáfora de Tarko­vsky, que Lee Flôres encontrou o segredo de fabricar sinos que soam e não quebram. Rafael Aquino, médico, biólogo e poeta (autor de Areia em rolimã)