Por Luciana Candido

No dia 12 de junho, lembramos dois camaradas de quem tomamos emprestado o nome de nossa editora. Nesta data, em 1994, José Luís e Rosa Sundermann foram assassinados em São Carlos, no interior de São Paulo. Foi um castigo por defenderem os cortadores de cana-de-açúcar da região.

A vida do casal Sundermann foi marcada por sua presença junto às mobilizações sociais e à luta pelo socialismo. Nessa trajetória, incomodaram muita gente rica e poderosa. Naqueles primeiros anos da década de 1990 em particular, dirigiram várias greves de cortadores de cana e laranjeiros, o que deixou usineiros, fazendeiros, políticos e policiais furiosos.

Eles eram militantes da Convergência Socialista, da qual Rosa era dirigente. José Luís também era dirigente do Sindicato dos Servidores da Universidade Federal de São Carlos e da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra).

Em 1994, construíram, junto com a Convergência e outros socialistas espalhados pelo país, um novo partido revolucionário no Brasil, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. Entre 4 e 6 de junho, uma semana antes de sua morte, participaram do congresso de fundação da organização. Rosa fora eleita como membro do primeiro Comitê Central do partido.

O CRIME

Era madrugada de domingo quando o filho do casal, Duda, então com 17 anos, chegou em casa e se deparou com os corpos e uma cena horrível da qual nunca se recuperaria. José Luís e Rosa foram alvejados na cabeça enquanto assistiam TV. A forma como o crime foi executado aponta para uma ação profissional. Nada foi roubado da casa.

Durante a greve de 1993, José Luís e Rosa receberam reiteradas ameaças de morte feitas por policiais. Foi uma execução sumária, crime típico de latifundiários e agentes de repressão que atuam com a certeza da impunidade. Isso se expressou até mesmo no fato de a cena do crime ter sido comprometida com presença inclusive da imprensa dentro da casa.

O inquérito foi arquivado, deixando o crime impune e esgotando a possibilidade de qualquer recurso jurídico no Brasil para reabri-lo. Como disse o irmão de José Luís, “[todos que] fazem o que eles faziam, lutavam pelo salário dos que pouco tinham renda, qualquer patrão é inimigo deles”.

Os advogados do Instituto José Luís e Rosa Sundermann, no entanto, não desistiram de buscar justiça. Em 2004, denunciaram o Estado brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos por negligência e omissão. A denúncia foi encaminhada para uma comissão da Organização dos Estados Americanos em março daquele ano. É uma batalha difícil, mas ainda se aguarda o desarquivamento, pois não é possível se conformar com um crime bárbaro como esse.

De qualquer forma, o principal objetivo foi chamar a atenção da opinião pública. No documento enviado à OEA, os advogados declararam: “Nada foi roubado ou foi tocado na casa, nem cartões de crédito, nem qualquer outra coisa. O assassino disparou quatro tiros, dos quais três foram disparos certeiros nas cabeças das vítimas, com total precisão. As circunstâncias deixam claro tratar-se de uma execução fria e calculada, definitivamente obra de profissionais.”

MAIS DE DUAS DÉCADAS DEPOIS

Em 2013, José Luís e Rosa foram declarados anistiados durante a 77ª Caravana da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que julgava a anistia de ex-militantes da Convergência Socialista. Eles já militavam durante o período da ditadura militar e sofreram perseguição. Foi um ato simbólico, porém muito importante, pois só reafirma a força desses dois camaradas.

Imprimimos seu nome em nossas capas e fazemos essa homenagem com muito orgulho. José Luís e Rosa nos lembram as lutas sociais, a luta contra a impunidade e, sobretudo, sua batalha pela construção de uma sociedade socialista, na qual latifundiários, agentes de repressão e todo tipo de exploradores e opressores não terão vez. Pensando nisso, trabalhamos para ajudar a formar aqueles que seguem o caminho dos Sundermann.

WordPress Appliance - Powered by TurnKey Linux